Desde muito pequena aprendi que tinha que ser boa e ajudar as pessoas.
“As pessoas boas vão para o céu depois que morrer.”
Claro que não queria ir para o inferno!
Nem sabia que inferno era meu mundo interno com tanta contradição!
Se não dou suporte para a minha dor, não suporto a dor “do outro”. Sem acolher a mim, não posso acolher ninguém.
Mas não imaginava que existia esta possibilidade: acolher a mim. Não tinha esta referência de acolhimento. Minha referência era ter que fazer mais, mais, mais. Se faço mais que todos, sou melhor… esta é a ilusão.
Daí, a arrogância (quando falo arrogância, me refiro a um eu em mim, uma parte, que para sobreviver acredita precisar ser “melhor”) em sentir pena e querer ajudar, subestimando o outro, e me colocando a mais, tomando um poder que não é meu.
Uma curva escorregadia, uma violência velada.
Como foi se dando esta compreensão
O início disto foi em 1994 numa palestra, quando ouvi:
– Você pode sentar na mesa de jantar ou ficar com as migalhas do chão. Você escolhe!
Aí a semente foi lançada! Ao ouvir isto soube, queria a mesa de jantar, mas estava com as migalhas do chão.
Começou a maratona.
Lembro meu choque quando fiz um workshop com um alemão, fazia parte da minha primeira formação em Constelação Familiar, o tema era Violência Velada (em 2005). Fazia também um curso de Valores Humanos, estudávamos violência e o tema Violência Velada, me chamou atenção.
Estava me estudando na co-dependência e surpresa com minhas descobertas sobre mim mesma – que eu não era tão fofa como eu imaginava e que além de não ser tão boazinha como eu me esforçava, era cruel porque me rogava ajudar os outros (tentando ser aceita, eu era desonesta comigo mesma, logo com todos também).
Às vezes eu era honesta …. Mas nem tanto ! Kkkk
E lá, fiquei de boca aberta quando ouvi sobre a “ajuda”, o que eu dava era na real uma violência velada 😱.
Recebi aquilo e fui me re-ver e me re-fazer.
Pude observar que tudo aquilo que eu fazia, mesmo sem querer, porque havia aprendido que deveria ajudar aos outros e ser boa, era egoísmo.
Sim, egoísmo. Eu ajudava porque EU não suportava o sofrimento das pessoas, porque EU queria ser reconhecida, porque EU era muito carente e na minha carência Eu queria mais e mais do outro, porque EU queria e precisava do olhar das pessoas. Então eu ajudava.
Além do que, o outro ficava “grato”(dependente) pela “ajuda”. Assim ficava por perto, porque eu lhe dava migalhas, era o que eu tinha.
A base da relação era carência, mentira, migalhas, mau uso de poder.
Mas uma parte de mim se sentia “tão importante”…
Nesta época deste curso também li o que dizia Osho: quanto mais você depende de uma pessoa, mais você odeia esta pessoa”.
Comecei entender que estava na contra mão .
Fui descobrindo os verdadeiros sentimentos envolvidos (descobrir = tirar o que cobre, o que protege): dependência, co-dependência, carência, auto-afirmação, subestimar, superioridade para fugir da inferioridade, vergonha, raiva, competição, medo…etc .
Mas no fundo mesmo, tristeza por não me sentir suficiente como eu era.
Por muito tempo acreditei que valia pelas coisas que fazia e oferecia para as pessoas. Quando percebi isto, logo me propus não fazer aquilo que não fosse OK pra mim, com o intuito de agradar. Enfim, me propus dar um passo na direção da honestidade.
Medo versus tirar a máscara de boazinha
A intenção era das melhores, mas, logo dei de cara com um medo enorme.
Assim como eu era, seria aceita?
Precisei de um tempo, pois tinha certeza de que era gostada por tudo o que fazia.
Porém, sabendo sobre ajuda e violência, fiquei sem opção. Teria que encarar e tirar a máscara.
Daí, a luta: medo versus tirar a máscara!
Não ser aceita e ficar só…Esta era a crença que me atrelava.
A crença falava em alto e bom tom: se você não fizer o que querem de você, ficará sozinha!
Eu já tinha uma notícia que eu não me achava lá estas coisas e que não gostava muito de mim.
E se ninguém gostasse também?
Neste tumulto passo a passo, a coragem foi se apresentando e fui treinando uns nãos, deixar que cada um pudesse usar seus recursos e não precisassem de mim.
Estas percepções me surpreenderam muito porque tinha a fama que era bocuda, falava tudo que pensava e era durona.
Por muito tempo até eu acreditei no que ouvia a meu respeito.
Quando vi este aspecto vulnerável, percebi que vulnerabilidade pra mim tinha um cunho de ser menos.
Isso explicava também ter que ser mais e melhor – tentava agir o oposto do que sentia, pra esconder aquilo me criticava em mim.
Eu frágil? Nem pensar! Eu era arretada!
O que eu sentia não combinava com a forma como reagia e com o que eu “achava” de mim.
Não tinha coerência entre o pensamento, a palavra e a ação. Quando percebi, isto caiu como uma bomba de desconstrução dentro de mim.
Ops! Se o que penso não está coerente com o que falo e com o que faço e estas vias se cruzam, não teria como chegar a lugar nenhum que me trouxesse paz!
E nesta jornada muitas passagens .
Mas não tive duas opções, aceitar: subestimo as pessoas!
Ui! Que vergonha …. Também tive que lidar com ela 😂!
Se tá ruim, preciso mudar algo!
Minha sorte é que nunca consegui aceitar: é assim mesmo!
Ah não! Se tá ruim, preciso mudar algo!
E continuei a me observar…
A cada “ajuda” que eu queria dar, ainda no vício da repetição, freava minha ação, e não me movia enquanto não encontrasse a real razão de querer ajudar. Por um tempo fiquei sem saber o que era verdade ou não.
Fui compreendendo que me colocar disponível era uma boa forma de ajudar. Mas esta disponibilidade não poderia ser uma máscara pra ajudar. Fingir que estou disponível, mas induzindo disfarçadamente.
Fui também encontrando o caminho de observar mais atentamente o que sentia e seguir : se sentia sim: ok, e se sentia não: ok também.
Firmeza para sustentar, mesmo se isto pudesse desagradar alguém que fosse muito importante pra mim. E desagradei.
Lembrava o que uma pessoa muito próxima me disse:
– Foi uma lição pra mim. Não é contra você, é a meu favor.
😱Quando ouvi julguei muito a pessoa, eu achava muito egoista.
Levou um bom tempo para reconhecer o discernimento nisto. #pegueiadica.
Aos poucos, o amigo tempo foi revelando. Fui me sentindo mais segura para validar o que sentia.
As coisas acabavam se confirmando e fui aprendendo a confiar no que sentia.
Vá checar!
Nunca abandonei a checagem, aprendi num curso de coaching:
Vá checar o que está sentindo!
Assim faço até hoje. Sempre considero a possibilidade de estar equivocada e tomo um tempo para verificação.
Às vezes estou equivocada, daí retomo, às vezes não estou equivocada e isto serve para me impulsionar para frente.
Aqui estamos encarnados para através do carma chegarmos ao darma, equação relativamente simples na lei da ação e reação, mas na pratica às vezes embola. Mesmo assim, estamos vivendo a oportunidade de nos liberar e de liberarmos do que prendemos e nos prendemos. Se sairmos deste ciclo de repetições, nos liberamos e liberamos.
“Me prendo. Aprendo. Desprendo” . Sigo nesta observação. Sinto minha asa amarrada, reconheço onde e vou no foco de desatar este nó e continuar.
Na sequência também aprendi que quando eu faço por alguém aquilo que ele pode e deve fazer, eu retiro dele a possibilidade de realizar o que ele precisa fazer.
Cada um realizar por si aquilo que é demanda de sua alma e é o material para sua própria evolução, fortalecimento e conquista.
Se eu faço por alguém algo que este alguém precisa fazer por si mesmo, interfiro nas escolhas da pessoa , ATRAPALHO e retiro a oportunidade de crescimento e o mantenho na minha aba .
Retiro-lhe as possibilidades de sua liberdade e a felicidade contida na sua conquista. Retiro a oportunidade da autorresponsabilidade e das escolhas.
Aprendizado e expansão
O aprendizado e a expansão chegam quando escolhemos e assumimos nossa responsabilidade pelas nossas escolhas. Isto é o esboço da liberdade.
Ser imprescindível para alguém alimentava tanto minha carência. Afinal, o mérito sempre seria dividido comigo ou dado a mim. Mas também me mantinha na mentira.
Sempre pairava nas minhas relações a dúvida: porque a pessoa estava comigo? Será que gostava de mim? Ou queria o que eu estava oferecendo.
Vi a mendiga em mim.
Ela tinha uma construção: vou ser muito legal pra você, farei o máximo que puder e quem sabe o que não puder também. Mas, por favor goste de mim! Não me deixe só! Me dê algum valor, por favor! Pelo Amor de Deus! Me dê uma migalha de olhar!
Afinal eu não gostava nem confiava em mim…. alguém precisaria gostar!
E confesso: eu era bem oferecida, estava sempre oferecendo algo… O nome disto: barganha.
Lógico, com a melhor das intenções, mas algo não me deixava relaxar nunca, sempre tinha um comando dentro de mim: eu tenho que fazer, eu tenho que resolver, eu tenho que ajudar e uma infinidade de “eu tenho que” que me distanciava cada vez mais de mim mesma.
Como sempre tive uma sede de verdade, isto começou ficar impossível. Com isto dei bons passos rumo a honestidade.
Passei um tempo um pouco imóvel, porque tive a oportunidade de constatar que a maioria da minha ajuda não era tão honesta assim.
E que quando ajudava, disfarçadamente a “ajudadora” queria algo em troca. Nem que fosse atenção, olhar ou admiração.
Precisei de tempo para encarar que algumas pessoas não gostariam mesmo da minha nova versão e vencer o medo de perceber que por mim mesma, eu não era suficiente para ser aceita.
Tudo bem se algumas pessoas se afastassem, porque optei sair do lugar de mendiga.
Onde está o meu valor?
Investi na convocação :
– Onde está meu valor ? Onde está minha auto confiança ? – Rogava a manifestação do meu Ser.
Aos poucos ele foi dando sinal de vida. Sem pressa.
Com calma, a alma foi se revelando se desvendando.
Isto foi bem difícil para o eu idealizado, pro orgulho, enfim, pro ego.
Mas passo a passo e a cada passo dado, um bem adquirido para a alma.
Vai chegando este casamento comigo mesma, uma união plena e neste casamento não tem divórcio, só uma integração, uma confiança, afinal na base sólida o que se constrói pode crescer.
Esta base visualizo como a raiz de uma árvore, que para ser frondosa, a raiz precisa ser profunda🌳e só a própria árvore a sente.
Para a raiz ser profunda precisa ganhar espaço na terra, com isto, a força se manifesta .
E aqui faço um paralelo com a Constelação.
Quando estou no meu lugar em minha Constelação (minha família) estou conectada com a força das minhas raízes, aí sim, a raiz é autêntica.
Quem pode encontrar o próprio lugar somos nós mesmos. Não adianta esperar que alguém faça isto por nós. Só eu posso me colocar onde devo estar. O mundo externo apenas nos empurra para onde devemos ir.
Isto acontece quando me re-conheço. Sou a filha!
Assim vou encontrando meu lugar no mundo.
Eu comigo e através de mim, minha melhor amiga e parceira.
Neste momento posso estar junto.
Junto é de igual para igual, sem a necessidade de ajudar e ensinar, sem querer ser melhor e recebendo o outro com sua sabedoria. Respeitando aquilo que tenho, posso também respeitar o valor das pessoas.
Fui ficando mais humana comigo e o que tenho,
foi ficando suficiente pra mim, desta forma posso disponibilizar. Neste lugar, diminui a competição, porque se estou ocupando o meu lugar, o que é meu vem a mim e não tenho necessidade de ser quem não sou.
Sem querer ser importante pra alguém, porque já me importo comigo o suficiente.
Agora já posso agradecer a meu Ser que gritou por isto dentro de mim e a toda existência que colocou sincronicamente tudo e todos à disposição, a força vital manifestada neste corpo que me levou a cada passo deste caminho .
Suficientemente Siari
Hoje me sinto mais íntegra, honesta. Sinto que sou uma pessoa mais confiável.
Aprendi a me suprir e do que tenho, posso oferecer e o que ofereço é honesto e confiável, porém silenciosamente. Pouco ou muito, não tem esta dimensão.
Apenas o suficiente.
Faço o que preciso, da forma que sei hoje. E isto torna tudo precioso💎.
Sigo conectada com o “suficiente é mais”.
Dou meu melhor.
Quando estou no amor … Amo .
Se não estou no amor …aceito, me re-vejo…..Espero mais um pouco …. Já já a transformação chegará e o amor aumentará.
Amo muito estar no modo “HUMANA”, mas aprendo a cada dia esta proeza …
Suficientemente, Siari
Muita gratidão Querida por compartilhar
Me identifiquei muito, prático essa ajuda interessada o tempo todo principalmente com os meus filhos e tenho questionado muito a respeito, por isso ler seu relato foi um presente de Deus, me caíram várias fichas e certamente ficarei mais atenta quando quiser “ajudar” alguém. Beijos e muito obrigada!
ELENIR
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Oi querida, eu agradeço você compartilhar seu depoimento, gosto muito de saber como reflete o que compartilho. Fico bem feliz por saber que foi bom pro cê . 🙏🙏🙏
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Oi minha querida Siari!
Quando descobri que a ajuda deve ser simplesmente por amor, tudo ficou mais suave na minha vida. Sempre em minhas orações peço a Deus que tudo que eu faça, faça por amor. DifÍcil? Sim, más é um exercício constante para que meu orgulho não sufoque o objetivo maior de se doar sem querer nada em troca, Isso me tranquiliza e coloca no lugar, mais uma peça desse grande quebra cabeça que determina nosso lugar no mundo.
Suas palavras me proporcionaram mais uma nova compreensão do que é ajuda.
ÓTIMO!!!
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Siari , agradeço suas postagens, são palavras com
Luz e Amor.
Você consegue chegar onde deseja e a sua Luz nos ajuda
A descobrir os nossos, e os meus caminhos .
Grata amada
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Que linda! Bom saber 💓Grata por sua expressão . Beijo no coração
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Republicou isso em e comentado:
Onde está a necessidade de “ajudar”
Junto é de igual para igual, sem a necessidade de ajudar e ensinar, sem querer ser melhor e recebendo o outro com sua sabedoria. Respeitando aquilo que tenho, posso também respeitar o valor das pessoas.
Fui ficando mais humana comigo e o que tenho,
foi ficando suficiente pra mim, desta forma posso disponibilizar. Neste lugar, diminui a competição, porque se estou ocupando o meu lugar, o que é meu vem a mim e não tenho necessidade de ser quem não sou.
Sem querer ser importante pra alguém, porque já me importo comigo o suficiente.
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