Um amigo muito querido me convidou para participar de sua Constelação, como representante. Nem imaginava o que isto significava. Como ele é muito querido no meu coração e já o era naquela época (1996), aceitei. Achei interessante mas não entendi nada. Porém, este tema me atraía.

Reconhecendo a sensação de exclusão nas vísceras.

Anos depois fui pra Índia – o sonho da minha vida desde que lembro das minhas vontades… Índia me chamava.
O início da viagem mais esperada da vida foi maravilhosa.
Estava em Puttaparthi. Tudo me encantava, o que sentia era pleno – mesmo sem entender muito o que estava acontecendo. Lembro-me de me sentir feliz quando via a felicidade de alguém.
Me emocionei profundamente quando vi uma árvore da meditação que foi plantada enquanto eu nascia em Jundiaí.
Experimentei observar o EU QUERO dentro de mim. Eu queria comprar tudo e observei também que tinha culpa por TER e que queria levar presentes pra todos,  para compensar esta culpa… e assim foi.
Até que cheguei em Rishikesh cheia de expectativa e experimentando uma felicidade nunca antes vivenciada.
Foi quando, num acontecimento totalmente inesperado, fui imediatamente levada para uma sensação total de exclusão.

Como conseguirei explicar isto com palavras?

Como se estivesse no vácuo de um foguete que foi lançado, sei lá pra onde, sei lá por quem, sem destino e eu sugada neste vácuo.
Ou, outra forma de explicar: fui atingida por uma catapulta.
Uma experiência que acordou a maior dor que havia sentido, tão visceral e sem condição para ser entendida.
Me sentia totalmente deslocada, inadequada, errada, excluída, traída, envergonhada, maltratada, fragilizada.
Tudo que conseguia fazer era chorar, um choro que não tinha a menor condição de ser evitado. Queria sair dali, mas ir e vir na Índia não era tão fácil pra mim, inclusive porque estava em grupo, com pouco dinheiro, sem falar inglês.
Estava amarrada dentro, logo fora também.
Tive que ficar! Mas minha reza era: quero sumir daqui, quero ir pra minha casa!

Onde eu gostaria de estar? O que amenizaria isto?

Nesta época já tinha um ensinamento: você está no lugar que se coloca – associado com outro de um livro que li: qual o aprendizado?
Fui juntando os cacos, e tentando usar isto.
Até que cheguei em casa, triturada e em poucos dias percebi que estava menos ruim do que lá, mas estava muito ruim.
Lembro-me de me perguntar:
Onde eu gostaria de estar? O que amenizaria isto?
E não tinha nenhum lugar e nada no mundo onde eu ficaria bem. Vi que a coisa tava feia mesmo.
Iniciei um tempo de rever tudo na minha vida. Isto não foi um convite da vida, foi uma imposição.
Comecei a perceber o quanto eu me amarrava nas minhas interpretações de fidelidade e obediência, comecei a afrouxar e perceber que fidelidade precisava estar alinhada com o que eu sentia que era bom pra mim.
Neste trajeto precisei limpar umas camadas, porque não me permitia saber o que era bom pra mim, precisava da validação de alguém.
Estava com muita raiva e tristeza, mas da tristeza eu fugia, então me ocupei da raiva.
Foi bom porque ela me empurrou a olhar para coisas que precisavam mesmo ser mudadas na minha vida.
Se tratava mais de posturas internas, o lugar que me colocava, como mencionei no post da semana passada, a mendiga.
Apesar de que este foi UM passo, porque ainda mendiguei muito depois disto. Fez parte do aprendizado! Já me envergonhei e julguei muito esta mendiga, mas foi assim.
No auge deste vácuo tinha que trabalhar, estudar, me estudar, dar conta da vida financeira que estava bem ruim, relacionar…. tudo era TENHO QUE!
Queria mesmo sumir!

Curso de Constelação Familiar

Um dia, abri o computador e tinha um e-mail sobre um curso de Constelação Familiar.
Me senti convocada pela minha alma!
Sem duvidar me inscrevi, foi um chamado muito claro.
Lá fui eu, sem saber muito o que viria. Mas uma coisa era certa: tudo estava tão ruim, que piorar não poderia.
Entrei de cabeça, corpo e membros …. como tudo que faço.
Já neste primeiro módulo fui constelada e com este presente,  recebi outro torpedo…. Recebi não, quem recebeu foi meu ego.
Para constelar precisa ter uma questão clara.
Colocam-se representantes para a pessoa e para a questão, que envolve a família, os pais, irmãos e o que mais for necessário.
As pessoas, representantes seguem o movimento e o que sentem e assim vai se mostrando o que estava velado.
Nada que a mente possa interpretar e entender.

Desordem do amor

Não lembro qual foi a questão exata que coloquei, era algo relacionado à codependência (*) e a relacionamento, logo, a Constelação foi seguindo os movimentos e se mostrando.
Eu sentada a observar e mais do que isto, minha mente ansiosa por entender.
Eu voltava para o essencial, e me dizia internamente: Siari apenas sinta.
Fiquei neste vai e vem: sentir e entender.
A consteladora era bem objetiva e direta, tipo alemã, bem conectada com o presente. Tinha uma postura de silêncio na ação certeira dela, isto muito me encantou.
Ela colocou representantes para mamãe, papai e eu.
A representante da mamãe olhava para outra direção.
Logo ela colocou também os avós maternos e os irmãos da mamãe – e era onde o olhar da mamãe ficava: nos irmãos dela.
A minha representante se colocou  como mãe.
Quase no final da Constelação veio algo que levei anos para integrar e aceitar.
A representante da mamãe disse: eu sou sua mãe,  eu sou a grande, você é a pequena. E a minha representante disse: eu sou sua filha, eu sou a pequena.
Dentro de mim captei um pensamento associado a uma sensação de indignação:
– kkkk não mesmo!!!
Percebi então que eu era a grande, eu me sentia a grande.
A próxima frase da mãe: eu te dei a vida e isto é bastante.
Captei outro pensamento:
– Ooooiiiiiii!!! Como assim?! Esta vida esquisita, ruim, cheia de sofrimento, polêmica, pobre, que tem que batalhar muito pra tudo. ISTO é bastante???
Naquela época já “sabia” que eu era responsável por tudo na minha vida. Sabia, mas ainda não “sentia”.
Logo vi que não aceitava esta lei e mais ainda: estava na desordem do amor. Literalmente correndo contra a correnteza, porque nesta relação com a mãe, eu sou a pequena.

Mas, no meu equívoco, ser a pequena era ser menos e estar submetida à grande, sem opção de ser diferente do que “a grande” determinava…. como era na infância.

Porém eu estava “a grande”, fora do meu lugar na minha Constelação. Logo, não estaria no meu lugar no mundo.
Isto gera muita confusão.
Se não ocupo meu lugar, quero um lugar. E sem saber qual é o meu lugar, vou me projetando nos lugares idealizados, que são lugares desejados pelo ego.
Aí surge muita competição e julgamento, uma prontidão pra se defender, atacando ou manipulando.
Nesta busca para fora, não encontrarei mesmo, porque está dentro!
Tudo foi construído equivocado, dentro da fluência das ordens do amor. Mas nada equivocado porque esta era minha história e estava tudo certo para meus resgates e aprendizados, sabendo que o que eu queria era fluir e poder ser mais amorosa, então este ajuste se fazia necessário.
Ao terminar este primeiro módulo, saí com esta informação bombástica.
Eu sou a pequena … uiiii !!!!
Mas ao mesmo tempo algo me aliviou muito, algo mais suave se apresentou, nem sabia bem o que era, mas foi muito transformador. Sentia algo diferente e esta sensação mais relaxada se manifestava na minha barriga, afinal está tudo conectado e no corpo.
Uma tensão constante que tinha se afrouxou um pouco, como se a trama de um tecido tivesse ficado mais solta.
Segui sem pensar muito, até porque estava tudo tão intenso que nem dava pra tomar um tempo, mas as fichas começaram a cair.

Tudo instalado no sistema de crenças

O que vi desde bem pequena, mamãe muito ocupada e preocupada com meus tios, tia e avós.
Logo me propus a ajudá-la e copiá-la também.
Como criança, queria o olhar e aceitação dela, criei uma estratégia: ela era muito ocupada, não teria tempo – se eu ajudasse, quem sabe sobraria algum tempo pra mim. E também a copiava, achei que se ela fazia isto, então era o certo a se fazer.
E se eu fizesse o certo, ela me aceitaria e sobraria algo pra mim.
Programa instalado… em busca das sobras.
Vivia neste programa e com os sentimentos associados aos focos alterados.
Sempre querendo e querendo algo que nem era pra mim.
Se não estou no meu lugar no meu sistema familiar, que é a base, estou fora.
Se estou fora da minha base, como posso florescer sem a ligação com a raiz? Como fluir?
Tudo instalado no sistema de crenças.

Foi iniciada a reconfiguração do sistema

Nesta época, fazia grupos de terapia e estava vivendo um momento de acusar, como parte do processo, para aceitar as raivas, arejar, mover a energia estagnada e seguir em frente.
Logo, fui para acusação e pra vítima:
– Porque minha mãe blá blá blá, e que ela fez blá blá blá,  e que ela não fez blá blá blá….
Mesmo já sabendo que eu era responsável por tudo na minha vida, fiquei neste blá blá blá, porque sabia, mas não sentia.
Era necessário passar por ali e reconhecer. Se não fizesse isto, não teria saído disto.
E este módulo reverberou muito em muitas áreas da minha vida e ainda marca presença, porque ao receber esta “informação” todo meu sistema interno precisou se reconfigurar e isto não acontece do dia para noite. Um movimento amplo.
Fui observando que sendo “a grande” não sabia receber, porque dei o que não tinha pra ser aceita. Fiz uma via de mão única.
Bem na lista das percepções, como era receber? Não tinha nenhuma referência. Apesar de querer muito, eu não tinha programa de recebimento.
Se eu era a grande, a “mãe” de todos, tinha que dar e estava sempre oferecendo a tal “ajuda”. Até porquê isto me dava um senso de importância.
Quando recebia algo, logo tinha que retribuir, mas o melhor mesmo era dar. Porém, aquele dar pra amarrar e pra compensar uma culpa porque não tinha permissão de estar bem se todos ao meu entorno não estivessem também.
Vi também aspectos do orgulho, e quando falo orgulho me refiro a um escudo que protege uma grande e antiga dor de inferioridade – para fugir desta dor de inferioridade, ia para a superioridade.
Ajudando, me sentia superior e nem precisava olhar para o real sentimento, me sentia muito menos porque não fui respeitada nem priorizada nas minhas demandas.
Hoje entender isto é fácil, mas para a criança, a prioridade era sobreviver e para a sobrevivência precisava sentir a segurança de que era aceita e amada. Pra isto fazemos qualquer negócio, porque sobrevivência é o chamado maior. A criança nem sabia que tinha escolha, seguia no modo: faço qualquer coisa pra estar incluída.
Daí volto na minha primeira ida para Índia. Fazia qualquer coisa para ser incluída.
Aquilo que vivi se reedita nas projeções que fiz.

Constelando, incluímos tudo que foi excluído

O presente recebido foi este, tocou numa grande ferida de exclusão.
Daí, Algo Maior me levou para onde eu precisava estar para acessar esta dor de exclusão, num campo fértil para incluir.
Constelando incluímos tudo que foi excluído e os movimentos da Constelação, hoje ainda mais silenciosos, seguem a mostrar o que está excluído e precisa ser incluído.
Ao incluir, algo se libera e os pontos de energia atados se soltam, liberam, num movimento que nem podemos imaginar até onde vai.
Mas deixando no passado o que é do passado, podemos finalmente estar no presente. Este presente vai se ampliando a cada inclusão.
Sem grandes expectativas de uma saída mágica, e sim um caminho a ser seguido e passo a passo conquistado.
Este foi o primeiro passo que dei na direção do “meu lugar”.
Aos poucos fui aceitando e chegando no  meu lugar na minha família.
Neste movimento fui encontrando meu lugar no mundo e seguindo o movimento.
Só ocupando este lugar a mim designado e por mim escolhido posso ser e estar em condição de ser sustentável.
Aí sim, estar digna da vida e transbordar.

suficientemente, Siari.

9 Replies to “Constelação: o primeiro passo em direção ao meu lugar”

  1. Si, querida . Uma das pessoas mais inteligentes que ja conheci ! Eu sou grata sempre por poder fazer parte da sua familia e por termos lacos tao fortes nessa vida ! Aprendo muito com voce ! Parabens pelo seu blog! ( Obs. o teclado do meu computador nao tem acentos) Sorry ! Continue nos iluminando com seu conhecimento! Te amo

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