Depois que fiz o primeiro módulo – que escrevi no post da semana passada – desconfiei que continuaria e foi o que aconteceu. No mês seguinte lá estava eu.
A questão que me inquietava naquela época era a financeira.
Venho de uma família pobre, sei que choca um pouco este termo, sempre ouço pessoas falando simples ou humilde para expressar pobre – como se esta informação precisasse ser disfarçada, como se pobre fosse motivo de vergonha.
Bem, mais tarde estudando o tema vergonha, também pude reconhecer que tinha sim. Mas a vergonha não é a questão deste tema, e sim o dinheiro.
Comecei a trabalhar fora aos 12 anos, fui ao dentista para fazer um tratamento e cheguei tensa porque sabia a condição financeira em casa e o fato de ter uma despesa a mais já era um arrepio. Ele fez o orçamento e, papeando com o dentista, ele mencionou que precisava de uma “ajudante” perguntei quanto ele pagaria e propus trabalhar para poder pagar o tratamento, ele topou.
O trabalho era: receber as pessoas, acertar os pagamentos, marcar horário, auxiliá-lo com os instrumentos, fazer a lista de materiais faltantes, às vezes ir fazer esta compra e no sábado, depois do expediente, fazer a limpeza no consultório.
Topei na hora. Sabia fazer tudo o que ele propôs.
Voltei pra casa toda animada e contei pra meus pais.
Fiquei toda feliz. Estudava a noite e tinha duas horas de almoço, o que daria para continuar dando conta da casa, que eu limpava e cuidava porque minha mãe trabalhava o dia todo também e ela cuidava da comida.
Um problema a menos e naquela época (46 anos atrás) menores podiam trabalhar.
Sempre trabalhei bastante, como dizia meu pai, eu era um pé de boi….
Sempre fui mesmo, super trabalhadeira e fazedora. Hoje sei: tinha um foco e nesta direção eu ia, (ainda não sabia que era foco) simplesmente seguia.
Também nem imaginava que poderia ser diferente e que existem repetições e sistema de crenças, necessidade de ser aceita e outras coisas, achava que isto era ser eu mesma. E em algum ponto sim.
Até que num momento, já com idade adulta, divorciada, tinha conseguido comprar minha casa, que sempre foi muito importante pra mim – depois compreendi que este era o sonho da mamãe, ter sua casa própria, ela ainda não tinha – e eu herdei este sonho, felizmente. Claro quando comprei minha casa foi desafiador, porque não me sentia no direito de ter algo que minha mãe sempre almejou. Fiz várias compensações e foquei bastante na dificuldade para amenizar a culpa de ter minha casa.
Me matava de trabalhar, mas naquela época eu achava chique ralar muito pra conseguir, o sofrimento me dava um pouco de direito da conquista, disfarçava a culpa e eu me sentia pertencendo.
Ainda bem que podemos mudar nossas crenças.
Mas com tudo isto a vida seguia e bem ou mal fazia o que me sentia chamada.
Havia feito uma formação em renascimento e depois trabalhei um tempo lá, até que conheci uma outra escola e senti um forte chamado no coração, ali tinha algo que eu precisava, lá fui eu.
Foi neste aprofundamento no autoconhecimento que o dinheiro rareou, precisava curar algumas raízes, então o nó se mostrou.
Estava cursando a segunda faculdade, e a grana tava bem apertada. Às vezes melhorava um tiquinho, eu assumia alguns compromissos e não demorava nada piorava de novo, daí uma correria pra dar conta de tapar os buracos.
Isto era muito angustiante, porque sempre fui bem certinha com dinheiro, desde bem cedo tinha minhas contas feitas para não ultrapassar o que ganhava, sem atrasar meus pagamentos. Esta organização aprendi com a mamãe, que também veio de família pobre e conta com orgulho o quanto sempre trabalhou MUITO.
Cheguei no segundo módulo da formação de Constelação Familiar, era o módulo onde aprendemos também constelar sem os representantes e no lugar dos representantes colocávamos sapatos, uma forma de fazer constelação também, individual.
Tinha um rapaz sentado ao meu lado e ele colocou sua questão…. era a minha:
– O dinheiro até entra, mas não muito. E logo some.
Eu me vi na fala dele.
Ele colocou os representantes “sapatos” e o desenrolar da Constelação chegou na origem negra do pai dele e algumas gerações atrás eram escravos.
Quando isto se apresentou eu sentia aquela, a minha própria constelação.
Compreendi muita coisa. Papai foi gerado por uma mulata e o pai era o filho do patrão dela, um português.
Logo senti aquela Constelação, porque gerações anteriores, negras, escravas.
E que direito escravos tem?
Em fidelidade, que permissão teria de ir além e ser próspera?
Ao nascer papai foi adotado, mas meus avós que o criaram não contaram a ele. Quando ele estava com uns doze anos ouviu uma conversa da minha avó, que o criou dizendo a uma amiga que ele era adotivo e disse também que ela nunca queria que ele soubesse.
Ele nunca tocou no assunto com ela, fez que não sabia.
Ao final desta Constelação eu estava muito tocada com tudo e impressionada, como era tão igual.
No início falávamos que íamos de carona na constelação do outro. Mas aos poucos fui compreendendo que não tem o outro, se estou ali disponível para o campo da Constelação, tudo já é. Entendo que já eram quânticas, mas não sabíamos muito sobre este tema.
Afinal tudo está no campo e não tem “minha” Constelação, tem que o que foi excluído pede por inclusão, e a inclusão é feita a partir do que foi olhado.
Chegou minha vez de colocar a questão e disse que nem precisaria porque a Constelação antes da “minha” já tinha me mostrado o que eu precisava.
Depois deste módulo, tive muitos insights, várias coisas que não entendia até então foram sendo esclarecidas. E eu tinha também a escola de autoconhecimento e espiritualidade que frequentava e era um campo propício para este mergulho.
Foi um mês de muita intensidade e me tocou tão profundamente com tudo que veio à superfície, me identifiquei um pouco com a dor de meu pai, e fiquei sem recursos para sair disto. Mas também não havia associado, tanta tristeza que estava sentindo com aquele módulo, até porque nem foi a “minha” Constelação.
O tempo passou, ainda bem!
Chegou a data do terceiro módulo, eu estava meio deprê e mesmo sem muita vontade fui, sem me perguntar se queria, porque a resposta seria: não quero.
Estava tão apática que nem queria colocar minha questão, mas alguém falou algo que me impulsionou. Levantei o braço com vontade que ela nem visse.
Mas ela viu.
E coloquei que havia visto no módulo anterior a questão dos escravos ancestrais e desde então não havia conseguido melhorar, me sentia numa escuridão (e estava toda vestida de preto – só associei no final) mesmo sabendo que foi necessário passar por ali porque havia compreendido muitas coisas a partir dali.
Ela colocou representante para: papai, eu, meus avós adotivos.
Rapidamente os movimentos da Constelação mostraram o quanto eu era a “mãe” do papai. Onde a minha representante ia, o pai ia atrás.
O movimento mostrava que eu era a “grande” e o papai era o pequeno. E eu havia entrado no lugar da mãe que o gerou.
Eu vivia na tentativa de evitar a ele este sofrimento e tentava suprir tudo para ele.
Pretensão lógico, mas a criança não tem esta noção, quando entra neste emaranhado é pela sobrevivência e pelo amor.
Total fora das ordens do amor, que para fluir vai a partir da hierarquia que o grande doa e o pequeno recebe. Quando recebi tenho o que dar verdadeiramente e não na barganha.
Mais uma vez a informação veio a mim: eu sou a pequena.
Desta vez mais fácil, porque a relação com papai era bem tranquila pra mim e sentia o amor, o apoio e a aceitação dele claramente.
Porém eu “cuidava e protegia” ele como um filho. Tinha toda facilidade de compreender e relevar as atitudes dele e até acobertar algumas coisas.
Saí deste módulo me sentindo muito bem e agradecida. Mesmo sem conseguir entender através da mente – um caminho que conhecia bem – sentia a força que tinha.
No espaço entre um módulo e outro, mais uma avalanche de insights. Comecei compreender meus relacionamentos: eu era a mãe, mas queria um pai.
Óh só a confusão!!!
Eu era a mãe do meu pai. Não sabia ser filha, nem pequena.
O canal de receber estava obstruído.
Mas eu queria um pai e queria receber, buscava esta “falta” no relacionamento, mas eu era a mãe e o tratava como um filho, porque só sabia ser mãe e fazer, fazer, fazer…
Eu reclamava, mas eu produzia isto. Não sabia que eu que produzia.
Me sentia responsável pelo bem estar de todos. E se todos no meu entorno não estivessem bem, não me dava o direito de estar bem.
Ufa! Só de lembrar já cansei!
Nesta época comecei a reconhecer a raiz do lado paterno. E já sentia que não estava bom pra mim estar a grande em todas situações.
Mas era tão isto em todos os meus relacionamentos, que precisei experimentar algumas novas trilhas para sair deste emaranhado, que me endurecia, porque fica pesado me responsabilizar pela felicidade e bem estar de alguém.
Até porque não é possível este caminho, a chegada será sempre um grande abismo porque cada um só poderá fazer por si mesmo.
Sim recebemos apoio e podemos sim contar com anjos encarnados e desencarnados em nossa jornada, mas cada um é responsável por si.
Logo na sequência veio o módulo com o tema violência velada que citei no post : Ajuda? O que é ajuda afinal?
No desenrolar fui revendo minhas relações com os homens, claro que ainda em revisão.
Mas, poder me responsabilizar por mim já é suficiente.
E costumo dizer : se eu der conta da minha vida, já é bastante, como posso me rogar resolver a vida de alguém mais, se der conta da minha própria vida, já valeu a encarnação.
Porque estar na auto responsabilidade e sair do jogo de acusação é muito sustentável.
Quanto ao dinheiro, que era a questão do segundo módulo, ainda se estendeu um pouco, tinham outros aspectos que precisei olhar, como a vergonha da pobreza, e também que como queria muito ser filha, queria também um pai provedor, que não era minha história, por isto não tive.
Mas ainda por um tempo projetei esta expectativa fora.
Até que compreendi que era através de mim mesma que isto se transformaria, do masculino em mim que poderia fluir além disto, e também com a minha permissão da prosperidade financeira, sem culpa.
Quando esta peça se encaixou a energia do dinheiro começou fluir.
Fiz um trabalho que me rendeu um bom dinheiro, sem dívidas, troquei meu carro, reformei minha casa que estava bem precisando, e já estava com dinheiro guardado para ir para Índia no ano seguinte, quando, dois meses depois fui convidada para trabalhar num lugar onde eu quis por muito tempo.
E fui, mas sem a projeção de que alguém me salvaria desta situação, ali foi uma riqueza infinita de aprendizado também.
Dei o meu melhor e na lei da ação e reação também recebi muito.
Segui ali por um bom tempo e na paralela muita Constelação.
Suficientemente, Siari
Lindo🌹
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💝🙏
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Grata por compartilhar, querida!
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Maninha! Querida, grata por ler🙏❤️
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Quero fazer constelação, como fuinciona? Aonde fica?
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Olá Simone pode me enviar um email ou WhatsApp 999152775. Ontem tivemos um grupo . E pode ser feito também em sessão individual . Aguardo seu contato 🌸
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Oi linda.
Coincidência que um post de maio de 2017 tenha chegado neste momento. Parece retalhos de uma colcha que conheço. Gratidão!
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Sincroniscidade né querida 💖
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