O que quero saber…. Fala de mim.
Como lidar com a curiosidade?
O que ela representa e o que realmente quero saber de outras pessoas?
O que me move a querer saber algo de alguém?
Qual “eu” em mim se beneficia em se ocupar da vida alheia?
Reflexões para se fazer, quando o foco está na curiosidade de saber algo que nem é da minha conta, que não faz diferença para minha vida saber.
Isto pode estar associado a um eu dentro de mim que é fofoqueiro, controlador e que quer saber de tudo para manipular, ou se defender.
Talvez este lado vale uma observação do quanto me distraio com a vida alheia, assim perco a oportunidade de cuidar observar e perceber coisas da minha própria vida, facetas minhas não reveladas. Com isto vou rotulando as pessoas principalmente aquelas que me incomodam e que não suprem a minha curiosidade, meu controle, assim estou no outro, fora de mim.
Lembro me num grupo de estudo, nos foi sugerido não falar da vida dos outros, não falar de quem não estivesse presente, acabar com o correio da má noticia.
No dia seguinte, fui para faculdade, estava empenhada em colocar pratica o ensinamento, e para minha surpresa fiquei muito sem assunto, fui percebendo que de um modo geral a falação estava sempre com um tom de crítica, julgamento e falar de alguém.
Me observando percebi, que sempre que falava de alguém era porque esta pessoa havia me incomodado com alguma discordância do meu ponto de vista.
E quando vinham a mim falar de alguém, também dependia de como estava minha relação com esta pessoa. Se eu estava bem com ela, dava uma de fofa e entrava na defesa, mas se a pessoa tivesse me contrariado, estava na mira da minha raiva, “descia a lenha”.
Tudo se reduzindo em torno do “meu ponto de vista”.
Se me sentisse contrariada, era contra, se não era a favor.
Percebi também que não tinha disponibilidade para ouvir e receber as pessoas, se me contrariassem.
Sobre contrariedade então, um capítulo à parte.
Tive que aprender um novo jeito de relacionar, sem falar de alguém que não estivesse presente.
Interessante foi isto, porque percebi que se eu dissesse para própria pessoa o meu incomodo, tinha um risco sério.
A pessoa poderia me dizer o lado dela, e eu estar enganada.
Dai seria um nocaute no orgulho.
Neste caso eu estaria errada, e fazia qualquer negócio para não estar errada. Tinha uma crença que tinha que estar sempre certa, ou merecia ser punida pelo meu erro.
Como não queria ser punida…. defendia meu ponto de vista até o fim.
Várias vezes no meio de algum conflito, sentia que eu estava errada, mas era bem difícil ceder. A princípio me calava e aos poucos fui me sentindo menos ameaçada, e podendo ceder.
Esta nova atitude ganhava espaço dentro de mim. Isto foi um estímulo para sair do vício de focar e falar de alguém.
Também identifiquei um senso de importância alguém vir a mim para desabafar…. isto era criticar alguém, mas assim eu ficaria sabendo dos conflitos ali instalados.
E o que eu ganharia com isto?
Controle
Sabendo as fragilidades das pessoas, teria uma “carta na manga” no momento frágil para mim.
Um jogo e tanto.
Mas me sentia importante, me iludia que estava no controle, achando que sabia de tudo, uma síndrome de irmã mais velha de Deus… só rindo mesmo….
Já que não dava conta de mim me iludia saber de alguém.
Uma desconexão absoluta viver assim, esta desconexão se mantinha porque, se eu não podia confiar em mim mesma, em quem poderia confiar.
Pouca confiança, bastante controle e manipulação.
Percebi uma dificuldade minha em poder aceitar e receber as diferenças.
Isto se dava porque para me sentir validada, precisava que todos, ou a maioria concordassem comigo. O nome disto insegurança, carência, infantilidade.
Classificando as pessoas como más, por trás, tinha ilusoriamente uma defesa, como se eu visse um defeito de alguém amenizasse o meu próprio defeito.
Tinha uma frase em mim que dizia: tá vendo você não é a única errada.
Assim capturei mais uma crença, que dizia: você está sempre errada.
O que não é da minha conta, não me diz respeito
Comecei aplicar uma atitude, quando me percebia me ocupando com a vida alheia me dizia :
“Siari isto não é da sua conta, cuida da sua vida, se der conta da sua própria vida já é bastante”
Isto virou um mantra e usei muito isto, e ainda uso quando me distraio.
Com esta disciplina, pude sim observar através disso o meu julgamento, o meu incômodo, a minha dificuldade de estar fora do controle. Isto sim é da minha conta.
Pude observar a máscara da sabe tudo, atribuindo o meu julgamento às pessoas e perdendo a oportunidade de focar em detalhes ainda não vistos e reconhecidos sobre de mim.
Sempre que eu colocar a minha energia no outro, está aí algo para me rever. Inclusive porque estou perdendo a oportunidade de me apreender e aprender.
Quando principalmente sem ser solicitada, me ocupo com as pessoas no meu em torno, me perco de mim.
Mudando o tom
Continuei meu exercício e o tom das conversas foram mudando, isto não significa que não falei mais da vida alheia, mas me referia quando me envolvia.
Mais tarde pude também perceber que mesmo falando de algo que estava envolvida o tom mudava de acordo com o nível de “afetamento”.
Quando estava relatando algo que me afetava, que tinha uma dor envolvida, o tom era crítico, ferino com julgamento ou superioridade. E se estava contando uma passagem da minha vida que não havia desabono, era só um contar, sem querer convencer de nada.
Era um relato, que estava sendo mencionado porque o assunto demandava.
Sempre a base para percepção estava dentro, observando no corpo o sentimento associado ao diálogo.
Se estiver limpo, sai fluindo, é um compartilhar e isto pode ser uma boa base de troca.
Aos poucos o vício da fala ferina foi diminuindo e se transformando.
Disponibilidade é uma atitude interna
Na disponibilidade vou pra um lugar dentro de mim que fala sobre aceitação, interesse, empatia.
Interesse em receber o que essa pessoa tem pra me dizer.
Desde que ela queira.
Se ela não quiser eu posso acolher isso também.
Isto é maturidade, não querer arrancar do outro o que ele não quer dar.
Mas se estiver presa na minha curiosidade não estarei disponível para receber ninguém, até porque se tiver uma ideia preconcebida tudo que chegar, tentarei colocar nesta hipótese que criei.
Disponibilidade é uma atitude interna.
É um receber o outro Ser que ali reside.
Dentro de cada um há um universo com infinitas sabedorias, disponível a partir de sua própria expressão, única e individual em sua construção de mundo interno, e captá-las demanda sensibilidade e disponibilidade, respeito para receber da forma que pode ser oferecido.
Para isto preciso estar disponível para o meu Ser que aqui reside.
Nesta atitude consigo olhar com certo distanciamento, mas com empatia, conectada com as diferenças sem querer encaixotar e nem restringir ninguém ao meu ponto de vista.
A isto chamo respeito.
E o respeito anda junto com o amor ❤️
Suficientemente Siari