Durante a maior parte da minha vida tinha uma sensação de não pertencer a nada.
Achava esquisito sentir isto, afinal tinha uma família irmãs, irmão.
Tive uma mãe empenhada, um pai amoroso. Tinha também primas, primos, tios, tias, avós. Enfim tudo indicava pertencer, mas não sentia que fazia parte de nada.
Por vezes me achava problemática sem razão, mas era o que sentia.
Por não me sentir “pertencendo” estava sempre me esforçando excessivamente, na expectativa de mudar esta sensação.
Me sentia deslocada, inadequada, mas isto me moveu para tentar sair desta situação.
Muito cedo comecei fazer terapia, movida pela bulimia, mas também porque sempre algo dentro de mim dizia: se não está bom preciso fazer algo para mudar isto. E isto depende de mim.
Outro fator é que minha vida sempre teve uma guiança, mesmo sem ter tanta clareza disto. Sincronicamente as coisas iam chegando, e era exato o que eu precisava.
Até mesmo quando eu tentava me amarrar em alguma situação, a vida minha amiga, me levava para onde eu precisava ir.
Em minha caminhada no autoconhecimento fui compreendendo muitas coisas e isto aliviava muitas coisas, mas a sensação de estar a parte, permanecia.
Para não sentir isto me submetia a muitas coisas, achando que assim solucionaria este vácuo. Agia como se eu fosse muito super hiper esforçada, seria merecedora e incluída.
Lembro me de situações de ser até intrometida, para fazer parte me esforçava para estar em muitas situações sem ao menos checar se queria ou não, ou se era mesmo pra mim.
Aliás checar ! Nem existia esta possibilidade.
Esta postura também me dava uma sensação de que estava “incluída” onde estava porque impunha minha presença e támbem porque me esforçava muito para ser eficiente o tempo todo, para fazer parte.
Isto cada vez mais, me mantinha desconectava da minha espontaneidade e honestidade.
Como um círculo vicioso. Eu me esforçava na esperança de agradar e estar incluída, e quanto mais me esforçava mais desconectada ficava, e quanto mais desconectada, menos verdadeira. Como se tivesse uma tensão constante manifestada no meu corpo e mente.
Uma inquietude constante, e uma certeza que eu não tinha valor por mim mesma, e sim pelo excesso de ação, e muito oferecia o tempo todo, sem identificar o que dizia meu coração.
Sempre buscando um lugar, para dizer que era meu.
Mas estava focada na falta. Além da falta de saber meu lugar.
E muito que tinha já feito na auto investigação, algo ainda não dava encaixe.
Em algum nível havia uma dúvida do meu lugar, uma sensação de não pertencer e solidão.
Isto nutria o querer.
Em 2005 estive na Índia pela primeira vez, no inicio da viagem houve uma parada em Putaparthi , estava tudo lindo e feliz como nunca antes havia sentido. Inclusive porque tinha muita afinidade com as coisas da Índia desde minha adolescência. E esta era a viagem do meu sonho.
Na segunda parte, seguindo a viagem para Rishikesh, lá senti a maior sensação de exclusão que já havia sentido, senti em meu corpo todo esta dor.
Senti a inadequação em casa célula do me corpo. E muitos sentimentos como vergonha, raiva, tristeza, inferioridade, desapontamento, desconfiança, indignação.
E só o que eu queria era voltar pra casa. Mas não era possível. Era um tempo que as coisas eram fechadas com antecedência, e estava num grupo. Sem opção para aquele momento fiquei.
E para minha surpresa quando voltei pra casa, percebi que a situação estava mais grave do que imaginava, em lugar nenhum encontrava alento. Como se tivesse uma faca em mim e a cada pequeno movimento ela anunciava que lá estava.
Um dia me questionei : onde será que eu poderia encontrar algum alento? Imaginei lugares, pessoas, mas nada melhorava. Um vácuo absoluto.
Experimentei uma grande raiva de mim mesma por ter me colocado nesta situação.
Mas a vida continuava e tinha suas demandas, muitas obrigações, e segui do jeito que deu.
Num dia abri meu e-mail e havia um curso de Constelação Familiar, já havia me interessado anteriormente mas frequentava uma escola que dizia para não misturarmos os trabalhos de auto conhecimento, e eu era muito cegamente obediente.
Como também estava muito duvidosa de tudo, afinal estava tão inteira lá e não pude dar um primeiro passo. Fui rever tudo.
Nesta revisão, segui o que sentia, por mim mesma.
Fui para o primeiro módulo da minha primeira formação de Constelação Familiar.
Dei meu primeiro passo em direção ao meu lugar.
Algo maior me conduziu para a demanda da minha alma.
No primeiro módulo, fui Constelada e logo presenciei onde estava, e onde deveria estar.
Ao observar minha constelação a pessoa que me representava, frente a pessoa que representa a minha mãe, disse : eu sou a filha , eu sou a pequena .
Captei um pensamento : 😐 hummm não mesmo, eu não sou a pequena, eu sou grande. Aí estava uma desordem. Não estava no meu lugar. E nem imaginava.
Depois de um bom tempo percebi também que ser a pequena para mim estava associado a ser menos. E isto me rebelava porque está era minha certeza … ser menos.
Aos poucos fui chegando no meu lugar
Com relação a minha mãe , Eu sou a filha, eu sou a pequena.
Mãe você é a grande.
A compreensão foi chegando. Os grandes doam, os pequena recebem. Aí então o que se dá é honesto. Dou o que tenho.
Também pude ver as exclusões deste lado materno do sistema familiar, e que em fidelidade infantil eu tentava suprir.
Pouco a pouco, as soluções foram se apresentando.
Assim fui chegando no meu lugar, na minha constelação, assim também na vida e no mundo.
Recebendo minha mãe como a grande, também pude ser apenas o que eu era, sem ter que ser algo que nem cabia a mim.
Primeiro recebo, assim tenho para mim, e tendo para mim, a sim o que transborda posso compartilhar.
No meu lugar não quero o lugar de ninguém, não tenho medo de perder meu lugar, porque só eu mesma poderei ocupa-lo.
E aceitando meus pais exatamente como são, minhas projeções e expectativas de resolvê-los em alguém vão se desfazendo aos poucos e o que surgem são parcerias na qualidade de ser humano. E isto muito me agrada.
Complementando meu depoimento , incluo este texto sobre pertencimento, é de um curso com Brigitte, sobre a lei do pertencimento de Bert Hellinger .
Todos temos o mesmo direito de pertencer a tudo.
Todos pertencemos a tudo.
A consequência da ordem é que todas as pessoas têm o mesmo direito de pertencimento, cada um em seu lugar, independentemente do que tenha acontecido.
Pertencimento e ordem caminham totalmente unidos.
Quando alguém não está em seu lugar, ou usurpa o lugar de um excluído ou cria uma nova exclusão, ele mesmo é vivido pelo sistema como um excluído de seu lugar.
Na memória ordenada inerente do campo morfogenético se conserva a recordação de tudo e de todos, com a mesma intensidade. E o sistema familiar vela pela integridade do clã, impedindo qualquer tentativa de exclusão ou esquecimento: quando alguém é rejeitado, um mecanismo cego designa um ser mais jovem para representar este rejeitado, para que seja visto e reintegrado.
O pertencimento arcaico se manifesta através da boa consciência ou consciência individual (pessoal), que apenas valoriza o pertencimento ao clã mais imediato e desqualifica todos os demais sistemas que sejam iguais ou maiores que o seu. O pertencimento adulto é o pertencimento a todos os campos e à sua totalidade, aquela que assume tudo o que existe, tudo o que foi feito, que assente (diz sim) a tudo como é.
A primeira grande necessidade humana, aquela que assegura a sobrevivência do clã e, por conseguinte, da espécie, é a necessidade de pertencimento.
O sentimento genuíno que impulsiona toda a nossa vida e que se esconde atrás de todos os demais sentimentos, é o amor e seu corolário: o medo de ser rejeitado, de não pertencer. Este amor garante nosso pertencimento.
E o cimento inconsciente do clã é a má consciência que se ativa cada vez que fazemos algo que nos afasta um pouco de alguém ou de um grupo, que coloca em risco nossa segurança, nosso pertencimento.
As ordens do amor não pertencem ao nível dos sistemas familiares ou consciência familiar: o transcendem; pertencem ao nível do que Hellinger chama a Consciência do Espírito.
Nos levam a amar a tudo e todos como são, pertençam aonde pertençam.
O pertencimento está unido à ordem.
Já que todos pertencemos, o pertencimento nos abre o coração para todos.
O pertencimento vive o amor do Sistema familiar por todos e por cada um de seus membros.
É puro amor.
É amor grande.
Vê a todos como são e não só àqueles de seu sistema.
Vê cada um com sua carga e suas fidelidades, e nos toma como somos.
Como inclui a todos, nos põe em contato com os excluídos daqueles que compensamos as desgraças.
O que nos permite honrar estes excluídos e honrar o que nos une a eles, nos libertando simultaneamente da compensação.
Enquanto as fidelidades que nos unem a alguns ancestrais nos fazem rejeitar a outros, são frutos de um amor pequeno, arcaico e cego, o amor infantil de uma criança.
Essas fidelidades desenvolvem em nós a Consciência Moral.
Essa consciência moral é o inimigo do amor grande, é a semente da guerra.